Mario Sabino explica saída de Diogo Mainardi de O Antagonista
De tempos em tempos, desisto do Brasil.
Estou desistindo novamente agora.
Além de renunciar às urnas, resolvi renunciar também ao nosso site.
A partir de hoje, vou parar de escrever para a imprensa.
No caso, O Antagonista e a Crusoé.
O plano é me dedicar a atividades mais gratificantes do ponto de vista intelectual e espiritual.
De fato, pretendo passar meus dias deitado no sofá, tirando meleca do nariz.
Quanto tempo isso vai durar?
O trato é permanecer um ano de folga.
Pode ser mais, pode ser menos.
A única certeza é que vou me abster de comentar a campanha eleitoral, os debates na TV, o resultado do primeiro turno, a festa do vencedor, os nomes dos ministros, as tentativas de golpe, a compra dos parlamentares.
Sinto-me revigorado só de ver essa lista.
É claro que há reciprocidade nisso.
Eu desisti do Brasil, o Brasil desistiu de mim.
Ninguém está disposto a ler pela trigésima-oitava vez os mesmos comentários sobre os mesmos assuntos.
Eu já disse o que tinha a dizer.
O afastamento, portanto, é consensual.
O Brasil e eu enjoamos um do outro.
Vou sair de mansinho e o leitor nem vai notar.
Estupidamente, eu havia prometido me atirar do campanário de São Marcos em caso de segundo turno entre Lula e Jair Bolsonaro.
A aposentadoria precoce foi o jeitinho acovardado que arrumei para descumprir a promessa.
É uma espécie de terceira via particular.
Minha vida vai virar uma Simone Tebet: estreita, tediosa, supérflua e sem brilho, mas longe daquela gentalha fedorenta que há vinte anos embosteia meu dia a dia.
A última vez que desisti do jornalismo - e do Brasil - foi em meados de 2010, antes do estelionato eleitoral de Dilma Rousseff.
Fiz as malas, voltei para Veneza, escrevi um livro.
Foi a melhor fase da minha vida.
Vou tentar replicá-la agora.
Sim, tem tudo para dar errado, mas estou pronto para o fracasso: sou Simone Tebet.
Quatro anos depois de desistir do jornalismo - e do Brasil -, desisti de desistir e, juntamente com Mario Sabino, meu amigo fraterno, lancei O Antagonista e a Crusoé.
Foi uma aventura e tanto.
Fizemos o impeachment e trancamos Lula na cadeia.
Denunciamos o bunker de Michel Temer e a sociopatia assassina de Jair Bolsonaro.
Chega.
É preciso renovar o site.
Sem mim.
Estou gagá.
Já fiz o que podia.
Ou mais do que podia.
Quanto ao meu futuro, ele é inexistente: só tenho um presente, cada vez mais curto.
Vou cuidar do meu jardim.
E da minha sepultura.
O epitáfio, esculpido no granito, é dedicado aos leitores que me aturaram até aqui.