Para dar certo, o golpe requer preparativos, e eles estão à vista

 Desta vez não deveria ser uma escolha difícil 

Ricardo Noblat

06/05/2022 6:00,atualizado 06/05/2022 6:30 

Estamos de acordo, os que querem Bolsonaro derrotado pelo desgoverno que faz e porque ameaça a democracia, que Lula (PT), Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB) e Simone Tebet (MDB) devem ser cuidadosos com o que digam para que não sejam mal interpretados e para que não percam votos. 

Mas sabemos que essa não é uma tarefa simples. Muito menos no mundo das redes sociais, que tudo amplificam, da pós-verdade e das fake news. Fazer política, entre outras coisas, é falar, falar e falar com a pretensão de convencer os que escutam. Quem dispensa o verbo quase sempre se vale da fortuna para se eleger.


Campanha tem a ver com emoção. É, portanto, um terreno propício ao erro. Vence quem erra menos, porque todos erram. A razão é quem deve governar. A vantagem de quem governa, e deseja continuar governando, como é o caso de Bolsonaro, é que ele tem o poder por mais que possa errar. E o poder faz diferença. 

Nenhum presidente brasileiro que no exercício do cargo tentou se reeleger perdeu. Nenhum. O país, porém, jamais assistiu a uma eleição disputada por um presidente e um ex-presidente. Esta será a primeira. Bolsonaro apostará no antipetismo, uma vez que não realizou grandes coisas. Lula, na lembrança do que fez. 

Um tem a seu favor a caneta mais cheia de tinta que existe, agora sob a administração de políticos espertos e sem escrúpulos que não querem ficar sem ela. O outro, a vasta experiência de ter disputado 5 eleições presidenciais consecutivas – ganhando 2, elegendo e reelegendo seu sucessor. Parada difícil, mas escolha fácil. 

As próximas pesquisas de intenção de voto mostrarão se Bolsonaro cresce porque retoma os votos que o ex-juiz Sergio Moro havia lhe subtraído ou se cresce porque os que pensavam em votar em um candidato nem Bolsonaro nem Lula começam a aderir a ele. Para isso, sua rejeição terá de estar em queda. É a maior até aqui.


As pesquisas também irão mostrar se os demais candidatos dão sinais de que poderão sobreviver, e, quem sabe?, se terão a chance de cair no gosto do eleitor nesta fase da pré-campanha. Só a partir de agosto, com a propaganda diária no rádio, na televisão e por outros meios, é que de fato a campanha terá início. 

Não fosse por Bolsonaro, esta seria uma eleição normal. Restaria desejar sucesso ao vencedor e lembrar que deverá governar para todos, para os que votaram nele e para os que não votaram. Mas Bolsonaro só governou para os seus, e com o propósito de desconstruir, não de pelo menos tolerar, o que não lhe apetece.


Não bastasse, está disposto a desconhecer os resultados das eleições se eles lhe forem contrários. O golpe não será dado na noite do primeiro ou do segundo turno, como se imagina e se teme. O golpe já está sendo dado. Golpe requer preparação. Os preparativos estão em curso e sob a luz escandalosa dos holofotes.


Quem pensou que seria possível a invasão do Congresso americano antes que ela ocorresse com transmissão ao vivo? Talvez só Trump tenha pensado. Quem aqui, a quatro meses e pouco das eleições, duvida que algo igual  ou pior possa ocorrer tendo por alvo não um Congresso covarde, mas uma Justiça que resiste ao arbítrio? 

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