Governo pretende flexibilizar importação de biodiesel

 Samuel Nunes

Publicada em 18/03/2022 
EXCLUSIVO

Os ministros de Jair Bolsonaro estão prestes a queimar a indústria de biodiesel brasileira, na tentativa desesperada de conter a alta do preço dos combustíveis e reduzir a impopularidade do presidente. O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), formado pelo alto escalão da Esplanada, deve votar até o fim do mês uma resolução para flexibilizar a importação de biodiesel no Brasil.

Atualmente, o diesel encontrado nas bombas dos postos possui uma combinação de 10% de combustível renovável e 90% feito a partir de petróleo. A ideia é reduzir a poluição provocada por essa matriz energética, a mais utilizada no transporte de cargas do país.

A mudança deve beneficiar a Petrobras e outras empresas do setor de importação de combustíveis, ao passo em que coloca sob risco os produtores do biodiesel no Brasil. 

A mera discussão do tema irritou os empresários do setor. Boa parte deles apoia diretamente Bolsonaro e vê o movimento como uma afronta à indústria nacional de biocombustíveis. As associações 

da área atribuem a ideia ao ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, ao lado de empresários que seriam beneficiados com as mudanças.


Na quarta-feira, 16, representantes do setor de biodiesel se reuniram com Ciro Nogueira, para pedir que o governo aumente a porcentagem de biodiesel na mistura vendida aos motoristas. Eles alegam que a indústria está com 52% da capacidade de produção ociosa e podem suprir a demanda.


Atualmente, a indústria de biodiesel pode produzir 12,8 bilhões de litros do combustível renovável por ano, mas a expectativa é de liberar apenas 6,2 bilhões em 2022, se a porcentagem da mistura se mantiver.


As empresas também afirmam que cada ponto percentual a mais na combinação de biodiesel e diesel comum pode gerar incremento de até R$ 30 bilhões na economia brasileira.


Riscos econômicos

A maior parte do biodiesel distribuído no Brasil vem do óleo de soja, tanto o refinado, que sai diretamente da indústria, quanto o reciclado. Caso a resolução seja aprovada, a cadeia da soja no Brasil deve ser impactada. 


A resolução pode gerar aumento no preço da soja, já que parte dos grãos estocados para a produção de óleo tende a estragar e ser perdida.


A alteração no valor da soja influencia diretamente os preços da proteína animal. Isso porque os animais criados para consumo humano se alimentam com farelo de soja, que também ficaria mais caro.


Também há dúvidas quanto à qualidade do biodiesel que pode ser liberado pelo governo. Existe o risco de que o combustível inviabilize o trabalho para conter a poluição gerada pelos veículos movidos a diesel. 


Quem forma o CNPE

O CNPE é formado basicamente pelo alto escalão do governo. A presidência do colegiado cabe ao ministro Bento Albuquerque, de Minas e Energia. O órgão também tem a participação de Ciro Nogueira e dos ministros Paulo Guedes, Carlos França, Tarcísio Oliveira, Teresa Cristina, Marcos Pontes, Rogério Marinho e Augusto Heleno. 


O secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência, Flávio Rocha, e o presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Thiago Vasconcellos Barral Ferreira, encerram a lista de servidores federais que atuam no conselho.


O grupo ainda tem a participação de dois especialistas externos e de um representante dos governos estaduais. 

https://obastidor.com.br/economia/governo-pretende-flexibilizar-importacao-de-biodiesel-2976

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