País tem menos vacinas e mais mortes devido a Bolsonaro, prova Dimas Covas
Por Kennedy Alencar
Em depoimento à CPI da Pandemia nesta quinta-feira, o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, provou que o Brasil tem menos vacinas e mais mortes por covid-19 por responsabilidade direta do presidente Jair Bolsonaro.
A ordem direta de Bolsonaro se negando a comprar a "vacina chinesa" e os atrasos do Ministério da Saúde em negociações com o Instituto Butantan contribuíram para agravar a tragédia sanitária, postergando o início de fabricação de imunizantes e da vacinação no Brasil, que caminha celeremente para 500 mil mortes por covid-19.
Num pronunciamento inicial de 25 minutos, Dimas Covas fez um relato cronológico das negociações do Instituto Butantan com o Ministério da Saúde.
Em 30 de julho de 2020, aconteceu a primeira oferta de vacinas ao governo federal: 60 milhões de doses a serem entregues no último trimestre do ano passado.
Em 7 de outubro de 2020, ocorreu nova oferta. O Butantan forneceria 100 milhões de doses.
Dessas, 45 milhões seriam produzidas até dezembro do ano passado.
Outros 15 milhões seriam entregues no fim de fevereiro de 2021 e mais 40 milhões até maio.
Nada disso deu certo.
No dia 20 de outubro do ano passado, em reunião com secretários de Saúde, o então ministro Eduardo Pazuello anunciou que o governo federal compraria 46 milhões de doses. No entanto, Bolsonaro desautorizou a compra no dia seguinte.
"Houve uma manifestação do presidente dizendo que a vacina não seria incorporada", disse Dimas Covas, ressaltando que, com exceção da China, o Brasil poderia ter sido um dos primeiros países do mundo a começar a vacinar a sua população.
Ações e omissões de Bolsonaro impediram a compra antecipada e atrasaram a fabricação da CoronaVac, a vacina da chinesa Sinovac que é responsável por cerca de 64,5% das imunizações feitas até está quinta no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde.
Em resumo, se Bolsonaro não tivesse sabotado a Coronavac, desautorizando a compra e lançado dúvidas sobre sua eficácia, o Brasil poderia ter hoje mais pessoas vacinadas, o que teria evitado mortes, infecções e sequelas.
O presidente agravou a tragédia sanitária.
Sem contar o desprezo pela vacina da Pfizer, Bolsonaro jogou fora a possibilidade de o país ter 60 milhões de doses da CoronaVac já no fim do ano passado.
Antes de o relator da CPI da Pandemia começar a perguntar, Dimas Covas já havia dado a letra sobre quem é o responsável pela tragédia sanitária no Brasil: Jair Bolsonaro.
Apenas em 7 de janeiro deste ano o governo federal assinou contrato com o Butantan para a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac e pediu um adicional de mais 54 milhões.
Esse contrato adicional seria assinado em 15 de fevereiro.
Dimas Covas afirmou que esse atraso levou à mudança das datas de entrega.
Disse que a demora em conseguir importar insumos da China, país agredido diversas vezes por Bolsonaro e seus filhos, atrapalha a produção de vacinas.
"Essas questões de matéria-prima começaram, de fato, a interferir no cronograma. (...)
O que limita hoje é a possibilidade de matéria-prima", disse Dimas Covas, expondo como a hostilidade de Bolsonaro à China contribuiu para atrasar a produção de vacinas no Brasil.
Por volta das 10h45, Renan seguia perguntando e obtendo mais munição para responsabilização penal e política do presidente da República.
O depoimento mal havia começado e já era arrasador para Bolsonaro.
O testemunho de Dimas Covas produziu provas fundamentais para a CPI da Pandemia.
ButanVac
Segundo Dimas Covas, não houve "nenhuma tratativa com o Ministério da Saúde a respeito da ButanVac, uma nova vacina desenvolvida pelo Butantan. Ele disse que 40 milhões de doses poderão estar prontas até o fim do ano.
A ButanVac, afirmou Dimas Covas a Renan Calheiros, "tem um grande potencial de ajudar os países mais necessitados". O presidente do Instituto Butantan afirmou que a Anvisa analisa os dados para aprovação da ButanVac e "tem sido nestes últimos tempos uma grande parceira" do governo paulista.
Tiro pela culatra
O senador Marcos Rogério (DEM-RO), que tem atuação negacionista e governista na CPI, falou na sequência de Renan. Novamente, achou que havia descoberto a pólvora, mas se deu mal.
Ele divulgou áudios que mostraram o governador de São Paulo, João Doria, pressionando Dimas Covas na negociação com os chineses.
O senador avaliou que prejudicava Doria, mas o ajudou politicamente.
Se Bolsonaro tivesse tido o empenho de Doria para pressionar fabricantes de vacina e fornecedores de insumo, provavelmente mais brasileiros já estariam vacinados.
Alessandro Vieira (Cidadania-SE) reconheceu a colaboração de Marcos Rogério para a CPI "descobrir a verdade". Fato.
O senador do DEM tem dado contribuição fundamental para a CPI da Pandemia produzir prova contra Bolsonaro.
Se Bolsonaro tivesse agido como Doria, talvez já tivesse vacinado toda a população brasileira.
Não há argumento de defesa para o genocida.
"Feliz um país que tivesse um governador e um presidente dando murro na mesa para conseguir vacina", disse Humberto Costa (PT-PE).
Costa lembrou que, enquanto Doria batia na mesa para obter imunizante, Bolsonaro oferecia cloroquina a emas.
O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) tentou lançar dúvidas sobre a eficácia das vacinas numa intervenção com a tradicional mescla de negacionismo e baixaria.
Dimas Covas lhe deu uma aula básica de ciência.
"Não temos dados que demonstram queda da eficácia", reiterou. A bancada de senadores negacionistas desinforma o tempo todo para tentar proteger Bolsonaro.
Não tem funcionado.
Diferenças
Com fala ancorada na ciência, o médico Dimas Covas deu um depoimento que contrastou em termos de preparo com as inquirições de Marcelo Queiroga, ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ex-titular, e Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e Educação da pasta.
O despreparo é requisito para integrar a administração Bolsonaro.
Com elegância, clareza e firmeza, Dimas Covas acabou com os senadores negacionistas ao longo de seu depoimento.
Os bolsonaristas da CPI não ganharam uma.
Perderam todas.
Em resumo, ao encerrar a sessão desta quinta às 16h43, a CPI reuniu mais provas contra Bolsonaro e sua administração.
O governo federal desprezou, deliberadamente, a compra e a produção de vacinas no Brasil, como disse Dimas Covas.
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