Alívio com troca na PF é efêmero - Por Helio Gurovitz

A escolha do delegado Fernando Segóvia para substituir Leandro Daiello no comando da Polícia Federal (PF) é a última mudança que o governo Michel Temer aplica na tentativa de arrefecer a Operação Lava Jato.
Segóvia foi indicado pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. De acordo com relatos publicados, a indicação foi feita depois da operação que desbaratou o bunker com R$ 51 milhões de reais vinculado ao ex-ministro Geddel Vieira Lima. Também recebeu apoio do grupo político ligado ao ex-presidente José Sarney.
Cinco associações de funcionários da PF aprovaram o nome de Segóvia, visto como “agregador” e popular entre as carreiras de menor visibilidade na corporação. Apenas a Associação dos Delegados da PF informou em comunicado ser contra o método de escolha. Defendeu eleição com lista tríplice, nos moldes da realizada pelo Ministério Público.
Segóvia não deverá frear investigações. Ele é um policial, e elas são a razão de ser da PF. Por lei, delegados gozam de independência para promover suas diligências, sob a ordem de juízes. A mudança tem mais relevância política do que técnica.
Nos últimos anos, cada novo diretor da PF que assume passa por um período em que tem de demonstrar independência dos políticos. Foi assim com Daiello e com Luiz Fernando Corrêa, seu antecessor. Não há como ser diferente com Segóvia.
Ao aproveitar a recente troca de comando na Procuradoria-Geral da República (PGR) para mudar também o chefe da PF, o governo no mínimo ganha algum tempo. Leva semanas, ou meses, até as corporações se habituarem ao estilo dos novos chefes. Mudanças sutis de ênfase podem ter efeito decisivo no destino desta ou daquela investigação individual. Tempo, em política, é tudo.
O grupo de Temer se safou po enquanto das denúncias do ex-procurador-geral Rodrigo Janot. A PF se manteve imune às acusações que macularam a gestão dele. Antes mesmo de imprimir sua marca, Segóvia terá o desafio de manter a aura criada por Daiello ao longo da Lava Jato e de outras investidas de relevo, como Zelotes, Acrônimo ou Sépsis.

Impossível esquecer, durante o governo Dilma Rousseff, as desculpas do então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para justificar a petistas sua dificuldade de intervir ou mesmo saber das ações da PF. O atual ministro da Justiça, Torquato Jardim, a quem a PF se subordina, não participou da indicação do novo comandante.
Se deve momentaneamente o cargo ao grupo político de Temer e Padilha, Segóvia tem consciência que este governo estará no poder por no máximo mais um ano. Deverá, portanto, fazer um cálculo estratégico semelhante ao da nova procuradora-geral, Raquel Dodge.
Tal estratégia envolve pensar num prazo mais estendido. O período de graça concedido pela opinião pública no início do mandato servirá para, sobretudo pelo que ele não fizer, satisfazer às expectativas dos padrinhos políticos. A Lava Jato e as demais operações da PF podem até desacelerar no primeiro momento. Mas não desaparecerão.
Em seguida, o ano eleitoral será um estímulo natural a novas acusações e investigações. Um governo sem força política não terá como cobrar lealdade da chefia da PF, posição independente pela própria definição legal. Padilha, Temer, Moreira Franco têm um acerto de contas com o país marcado para o dia 1º de janeiro de 2019. Ninguém esqueceu as malas de dinheiro, as gravações ou todas as provas recolhidas contra eles.
Se há um recado a dar sobre a Lava Jato a Dodge, a Segóvia e à turma que trabalha contra os corruptos em nome do Estado, não do governo, ele está naquelas palavras inesquecíveis, ditas pelo próprio Temer: “Tem que manter isso, viu?”.

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