Legado dos Jogos Olímpicos - por: Junji Abe
Torcemos demais,
rimos, choramos de alegria com as conquistas, sofremos com as derrotas,
nos surpreendemos com feitos extraordinários, nos indignamos com a farsa
ultrajante do arremedo de atleta ianque, nos solidarizamos com gente
desconhecida que arrebatou espaço em nossos corações, festejamos velhos
conhecidos que justificaram sua fama e nos orgulhamos, muito mesmo, dos
espetáculos produzidos pelo Brasil para deleite de 4 bilhões de pessoas.
Com talento natural, dinheiro minguado, muita criatividade e o trabalho
descomunal de voluntários. Acabaram os Jogos Olímpicos Rio-2016.
O que
fica?
Mais do que memórias maravilhosas e as medalhas arrebanhadas – incluindo as inéditas em nossa história–, as Olimpíadas deixam um legado fabuloso. Resta-nos saber aproveitá-lo.
Mais do que memórias maravilhosas e as medalhas arrebanhadas – incluindo as inéditas em nossa história–, as Olimpíadas deixam um legado fabuloso. Resta-nos saber aproveitá-lo.
Como humanos, cidadãos e como
Nação. Os Jogos, em si, são fonte de conhecimento.
Proporcionam a
oportunidade de conhecer esportes que a maioria das pessoas nunca havia
visto, diferente de outros mundiais que focam uma modalidade esportiva.
Porém, o que marcam são as histórias.
Falo da judoca Rafaela Silva que faturou o primeiro ouro brasileiro nos Jogos. Menina pobre da Cidade de Deus que, não fosse o esporte, poderia ter um destino triste, similar ao de seus amigos presos por tráfico de drogas ou mortos em confrontos com a polícia.
Falo da judoca Rafaela Silva que faturou o primeiro ouro brasileiro nos Jogos. Menina pobre da Cidade de Deus que, não fosse o esporte, poderia ter um destino triste, similar ao de seus amigos presos por tráfico de drogas ou mortos em confrontos com a polícia.
Ou do pugilista baiano
Robson Conceição, também dourado, que usa seu talento para ensinar
crianças carentes da sua comunidade.
Ou ainda de Thiago Braz e seu salto
de ouro, à frente do drama de ter sido abandonado pela mãe ainda
criança e criado pelos avós.
O que dizer, então, de outro menino pobre, também baiano, que quase morreu por queimaduras, foi sequestrado e resgatado, perdeu um rim na traquinagem e levou a canoagem brasileira a um nível nunca imaginado? Isaquias Queiroz, vencedor de três medalhas, quase não chega onde chegou.
O que dizer, então, de outro menino pobre, também baiano, que quase morreu por queimaduras, foi sequestrado e resgatado, perdeu um rim na traquinagem e levou a canoagem brasileira a um nível nunca imaginado? Isaquias Queiroz, vencedor de três medalhas, quase não chega onde chegou.
Tinha de ajudar no sustento da casa e teria largado o esporte,
se não fosse a contribuição financeira de gente que acreditou nele.
Outro herói improvável é o ex-pedreiro e ex-garçom que deu ao Brasil o
bronze inédito no taekwondo, categoria acima de 80 kg: Maicon Siqueira, o
mineiro raçudo.
Todos eles encontraram no esporte o caminho da superação. Das dificuldades, das limitações, dos próprios sonhos.
Todos eles encontraram no esporte o caminho da superação. Das dificuldades, das limitações, dos próprios sonhos.
Pinço ainda o exemplo
de Serginho, o maior líbero de todos os tempos e, aos 40 anos, um
guardião do time de ouro do vôlei masculino.
Foi o menino pobre que
levou uma nova linguagem ao então esporte de elite.
Ele vendia geladinho
em campos de várzea, chorou por falta de dinheiro, mas manteve o foco e
a fé, sem nunca deixar de valorizar as origens e resguardar sua
simplicidade. Comprou a casa prometida à mãe.
Também optou por bancar
uma cozinha planejada para ela em vez de um carro para si mesmo. Eis uma
bela lição de amor à família, de gratidão aos pais.
Assim foi com
outros medalhistas que galgaram espaço no pódio com incomensurável
dedicação.
“Caí de bunda, caí de cara e, na terceira Olimpíada, eu caí
de pé”, resumiu o ginasta da prata Diego Hypolito. Muitos mais
acalentaram nossa alma verde e amarela.
Extasiados, assistimos às façanhas do lendário e carismático Usain Bolt, o raio da pequena e pobre Jamaica, a saga de Michael Phelps nas piscinas, os movimentos precisos da espetacular Simone Biles na ginástica.
Extasiados, assistimos às façanhas do lendário e carismático Usain Bolt, o raio da pequena e pobre Jamaica, a saga de Michael Phelps nas piscinas, os movimentos precisos da espetacular Simone Biles na ginástica.
Vimos também que, acima das competições, deve prevalecer a
natureza humana. E ela tem de ser boa. Foi assim que a neozelandesa
Nikki Hamblin parou para socorrer a americana Abbey D’Agostino, vítima
de acidente durante a corrida de 5 mil metros.
Eis a vitória do
companheirismo, da amizade, do desprendimento e amor que o esporte
também ensina.
O apelo à paz mundial foi protagonizado pelo abraço fraternal entre o britânico Andy Murray e o argentino Juan Martín Del Potro na final de tênis.
O apelo à paz mundial foi protagonizado pelo abraço fraternal entre o britânico Andy Murray e o argentino Juan Martín Del Potro na final de tênis.
Enquanto as torcidas disparavam ofensas mútuas em alusão à guerra
entre os dois países, em 1982, pela posse oficial das Ilhas Malvinas,
os tenistas choravam, abraçados, por longo período, ao final da
exaustiva peleja. Murray ficou com o ouro.
Mas, isso era menos
importante que o recado.
Entendo que é de todos a luta contra as desigualdades e intolerâncias de toda ordem. Ocorre que o esporte tem o condão de imprimir essa marca na alma humana.
Entendo que é de todos a luta contra as desigualdades e intolerâncias de toda ordem. Ocorre que o esporte tem o condão de imprimir essa marca na alma humana.
Apesar de todas as mazelas que ainda estão dissipadas no
mundo e, no Brasil, em especial, a tocha olímpica deixou um rastro de
esperança.
Ao passar a bola para Tóquio, particularmente para as mãos do
meu xará, o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, a Nação brasileira
tem motivos para cultivar novos sonhos.
Penso em muito mais que medalhas.
Penso em muito mais que medalhas.
Gostaria que as histórias de superação
dos nossos atletas servissem para inspirar outros brasileirinhos.
E
para mover governantes a investir, de fato, na oferta de esportes às
crianças e adolescentes.
Não é só uma questão de pódio nem de evolução
no desempenho olímpico. No campo do desenvolvimento humano e social, o
esporte se apresenta como ferramenta indispensável à promoção da
cidadania.
É ainda uma poderosa vacina contra os males da ociosidade que
favorecem a escalada da violência.
Não falo só do esporte competitivo.
Não falo só do esporte competitivo.
Mas sim, do esporte associado ao
lazer, de modo abrangente e acessível. Por décadas a fio, a maioria dos
municípios deu pouca importância a essas atividades.
Inclusive Mogi das
Cruzes que, até o ano 2000, envolvia menos de 10 mil mogianos num único
projeto municipal da área.
Com o propósito de reverter esse quadro, assumimos a Prefeitura em 2001, lançando os primeiros programas da série para estimular práticas desportivas e oferecer lazer.
Com o propósito de reverter esse quadro, assumimos a Prefeitura em 2001, lançando os primeiros programas da série para estimular práticas desportivas e oferecer lazer.
Em 2008, quando deixamos o cargo, os dez
principais projetos esportivos – sem incluir os de recreação –
registravam média anual superior a 130 mil atendimentos.
Foram moldados
para beneficiar pessoas de todas as idades.
É o caso do Esporte Mogi, desenvolvido em parceria com a iniciativa privada, para levar atividades esportivas, noções de ética e cidadania às crianças de bairros carentes da Cidade.
É o caso do Esporte Mogi, desenvolvido em parceria com a iniciativa privada, para levar atividades esportivas, noções de ética e cidadania às crianças de bairros carentes da Cidade.
Com total receptividade
popular, o projeto realizava nada menos que 5,5 mil atendimentos por
ano.
Ou ainda do “Sanção Premial”, que garante isenção do IPTU para
clubes que oferecem práticas esportivas e recreativas gratuitas a alunos
das escolas municipais.
Já revelou talentos para o esporte profissional
até em outros países.
As revelações do esporte mogiano personificam a evolução do processo que regeu a política municipal adotada para o setor.
As revelações do esporte mogiano personificam a evolução do processo que regeu a política municipal adotada para o setor.
Todas as ações foram
focadas no social. Ou seja, associar prática de esportes e lazer para
proporcionar ocupação saudável à população, com prioridade para crianças
e adolescentes carentes – combatendo a ociosidade que facilita a rota
da violência e das drogas – e para Terceira Idade.
Sintetiza a filosofia
definida junto com o povo, no PGP – Plano de Governo Participativo.
Mantidas pelo meu sucessor, Marco Bertaiolli (PSD), as aulas de esportes – de iniciação à formação de atletas – são ministradas nos centros esportivos, em clubes privados e escolas municipais, reforçadas pelo período integral.
Mantidas pelo meu sucessor, Marco Bertaiolli (PSD), as aulas de esportes – de iniciação à formação de atletas – são ministradas nos centros esportivos, em clubes privados e escolas municipais, reforçadas pelo período integral.
Há dezenas de modalidades – de futebol a badmington,
passando por rugby, xadrez, judô, taekwondo, ginástica artística e
atividades para Terceira Idade. Sem contar a recreação.
Muita recreação.
O lazer é a mola mestra de um dos mais bem-sucedidos projetos de todos os tempos.
O lazer é a mola mestra de um dos mais bem-sucedidos projetos de todos os tempos.
A Rua Feliz tem 13 anos de existência – 5,5 anos deles em
nossas duas gestões como prefeito, agregando mais de 450 mil
atendimentos.
Percorre a Cidade nos finais de semana, levando
brinquedos, atrações musicais e atividades esportivas.
O povo conhece bem o poder dessas ferramentas.
Guardadas as proporções,
orquestram magia semelhante à dos tempos de Olimpíadas, que vestem os
corações brasileiros de verde e amarelo e criam uma linguagem única,
capaz de nivelar desigualdades em nome da vitória.
Envolvida com esportes e lazer, a comunidade exercita a cidadania e cultiva a integração social.
Envolvida com esportes e lazer, a comunidade exercita a cidadania e cultiva a integração social.
Corpo em dia e mente sã em nome de bens
maiores, como mais qualidade de vida e menos violência.
Nesse
campeonato, se joga todo dia. Os craques são os participantes dos
projetos. Nada de mitos.
Há gente comum cumprindo seu papel.
E isso faz
toda a diferença na estrada onde a única derrota é a desistência.
Que
venha Tóquio, Shinzo Abe! Que venham dias sempre melhores, Brasil!