Opinião: Tarcísio assume ser o candidato do golpe e do extremismo
Por Cleber Lourenço
Quando Tarcísio de Freitas declarou que seu primeiro ato como presidente seria indultar Jair Bolsonaro, ele deixou cair a última máscara. Não foi um deslize, mas uma confissão pública de que sua candidatura não existe para governar o Brasil, mas para blindar um condenado por crimes contra a democracia. Em vez de falar sobre desenvolvimento, combate à desigualdade ou fortalecimento de serviços públicos, Tarcísio anunciou que sua prioridade máxima é a impunidade de Bolsonaro. Sua fala escancara que ele não representa um projeto de país, mas de submissão.
A imagem de gestor técnico e moderado que Tarcísio tentou cultivar desmorona diante de sua trajetória. Foi ministro de Bolsonaro, ajudou a militarizar a máquina pública, defendeu a ocupação de cargos civis por militares e, já como governador, se envolveu diretamente na articulação pela anistia dos crimes do 8 de janeiro. A promessa de indulto não surge do nada: é o coroamento de uma carreira marcada pela lealdade a um projeto autoritário. Não há programa de governo, apenas um pacto de servidão. Tarcísio não disputa como estadista; disputa como cúmplice, como correia de transmissão de um projeto que despreza as instituições e a democracia.
Essa cumplicidade se revela em cada gesto. Ao se oferecer como herdeiro político de Bolsonaro, Tarcísio adota a lógica da chantagem permanente: quem não se ajoelha é traidor. Ele se coloca como o sucessor obediente, disposto a transformar o cargo mais alto da República em balcão de favores para proteger um homem e sua família. A política, em suas mãos, deixa de ser espaço de negociação e se converte em ferramenta de vingança e destruição institucional. Esse é o retrato do candidato do golpe: alguém sem autonomia, sem projeto e sem qualquer compromisso com a sociedade.
No Congresso, a engrenagem segue a mesma lógica. Aliados bolsonaristas pressionam pela aprovação de uma anistia ampla, e Tarcísio já ofereceu o plano B: o indulto presidencial. Seja por lei ou por decreto, o resultado é o mesmo — garantir que os crimes contra a democracia fiquem impunes. A Presidência, em suas mãos, seria usada para blindar Bolsonaro e normalizar a impunidade. O futuro do Brasil seria reduzido a moeda de troca para a sobrevivência de um clã político que se alimenta da corrosão da ordem constitucional.

Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, disse que seu primeiro ato como presidente seria indultar o ex-presidente Jair Bolsonaro (Foto: Alan Santos/PR)
Tarcísio e fidelidade
Sua submissão, porém, não se limita ao cenário interno. Desde cedo, Tarcísio demonstrou afinidade com o trumpismo, reproduzindo discursos da Casa Branca e naturalizando a interferência estrangeira nos assuntos brasileiros. Hoje, esse alinhamento é ainda mais explícito. O governo Trump já manifestou abertamente que pretende interferir e influir nas eleições brasileiras de 2026.
A Casa Branca declarou que autoridades brasileiras estariam “minando a capacidade do Brasil de realizar uma eleição livre e justa em 2026”. O Tesouro dos Estados Unidos sancionou Alexandre de Moraes com base na Lei Magnitsky e impôs tarifas de até 50% sobre exportações brasileiras. Essas medidas, que deveriam ser enfrentadas como ataques à soberania, são recicladas por Tarcísio como munição política. Em vez de reagir com firmeza em defesa do país, ele as usa para reforçar a narrativa de perseguição que alimenta o bolsonarismo. Não é apenas coincidência: Bolsonaro é apoiado pelos americanos, e o candidato que se coloca como sucessor desse projeto, com a bênção de Washington, é o candidato do golpe.
A estratégia é clara: transformar sanções e tarifas em prova de que o Brasil estaria sendo vítima de um complô, quando na verdade essas medidas são respostas a ataques contra as próprias instituições brasileiras. Tarcísio, ao absorver esse discurso, se coloca como elo entre o bolsonarismo e a extrema direita internacional. Mais do que um governador, ele age como representante de uma rede transnacional de autoritarismo que ameaça corroer democracias por dentro. Seu alinhamento direto a Trump e à sua Casa Branca mostra que sua candidatura não é apenas um projeto interno, mas parte de uma ofensiva externa para fragilizar a democracia brasileira.
E como se não bastasse, Tarcísio partiu para ataques diretos ao Supremo Tribunal Federal. Ao afirmar que não confia na Justiça, seguiu à risca a cartilha de Bolsonaro: corroer a legitimidade da Corte, fragilizar os mecanismos de proteção da democracia e preparar o terreno para a deslegitimação do processo eleitoral. Um candidato que inicia sua campanha com ataques ao STF e promessas de indulto não projeta estabilidade, mas perigo. Não oferece confiança, mas instabilidade. Ele sinaliza que sua gestão não terá como norte a Constituição, mas a vontade de Bolsonaro e de sua família.
O conjunto desses elementos é devastador. Prometer indulto a Bolsonaro, atacar as instituições, alinhar-se ao trumpismo e aceitar a interferência estrangeira não são gestos de um estadista. São a prova de que Tarcísio não disputa a Presidência para governar o Brasil, mas para manter vivo um projeto golpista apoiado por forças externas. Sua candidatura não representa esperança de mudança, mas risco de destruição.
Ele não é apenas mais um nome em 2026. Ele é o candidato do golpe, aquele que, se eleito, transformará a democracia em refém da impunidade, da chantagem e da subordinação a um projeto autoritário com aval de Washington. Sua vitória significaria a consagração da impunidade como política de Estado e a conversão do Brasil em laboratório de uma agenda de extrema direita que ameaça corroer as instituições por dentro. Tarcísio não é alternativa: é ameaça direta à democracia e ao futuro do país.
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