Cientistas de SP se unem a consórcio para lançar satélites pequenos - Conjunto de equipamentos formará rede de sensores capaz de fornecer imagens 3D de alta qualidade sobre o relevo terrestre

Pesquisadores paulistas integrarão um consórcio internacional com o objetivo de lançar pequenos satélites de observação da Terra. 
A expectativa é de que o conjunto de equipamentos (menores do que caixas de sapato) forme uma rede de sensores em órbita capaz de fornecer imagens 3D de alta qualidade sobre o relevo terrestre, além da formação e conteúdo das nuvens.
Graças à tecnologia espacial, grandes satélites multifuncionais giram ao redor do planeta, o que possibilita o funcionamento da internet, do GPS e a observação terrestre. Contudo, satélites menores e capazes de trabalhar em conjunto ganham força, uma vez que permitem a troca de informações com o solo de maneira mais eficiente e a obtenção de imagens com qualidade boa.
“A maior vantagem dos mini e nanossatélites é que, por estarem em altitudes mais baixas, eles têm menor latência. Dessa forma, é possível que o fluxo de dados seja feito em tempo real, ao contrário dos satélites geoestacionários. Outra vantagem considerável é que o custo do lançamento de um satélite costuma ser calculado pela massa”, explicou à Agência Fapesp Klaus Schilling, professor do Zentrum Für Telematik (Alemanha) e líder do projeto.
O docente esteve presente na reunião anual do Regional Leadership Summit (RLS), realizada entre 27 e 31 de maio no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos, no Vale do Paraíba.
Fórum
O encontro é um fórum composto por cientistas de sete regiões: Bavária (Alemanha), Geórgia (Estados Unidos), Quebec (Canadá), Shandong (China), Upper Áustria (Áustria), Western Cape (África do Sul) e São Paulo. Os cientistas buscam impulsionar a colaboração bi e multilateral para o desenvolvimento de novas tecnologias.
Um dos acordos firmados na reunião de São José dos Campos, dentro do projeto Telematics International Mission (TIM), prevê lançar satélites com cerca de 3 quilos à órbita terrestre em 2021, provavelmente de uma base chinesa.
Durante o evento, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo(Fapesp), pesquisadores puderam trocar experiências e planejar ações. 
“A reunião dá aos cientistas do RLS uma oportunidade-chave para trocar experiências e impressões sobre os trabalhos. Permite, ainda, definir o que será discutido na 10ª Cúpula de Líderes Regionais, a ser realizada em Linz, na Áustria, no próximo ano”, afirmou Euclides de Mesquita Neto, membro da coordenação adjunta para Programas Especiais e Colaborações em Pesquisa da Fundação, à Agência Fapesp.
Colaboração
Segundo Geilson Loureiro, chefe do Laboratório de Integração e Testes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (LIT-Inpe), a reunião permitiu reunir empresas, institutos e universidades do Estado para impulsionar o andamento da parte paulista do projeto de pequenos satélites.
“Temos a tecnologia e a intenção de participar da empreitada, que deve reunir, além de pesquisadores da Bavária, cientistas das províncias de Shandong, Quebec e Western Cape. Reunimos integrantes das empresas paulistas Visiona, Orbital e Cron e pesquisadores do Inpe, do Instituto Tecnológico de Aeronáutica e da Universidade Federal do ABC para discutir nossa participação e formular uma proposta de financiamento do projeto”, disse o pesquisador à Agência Fapesp.
A expectativa é ter até nove pequenos satélites trabalhando em conjunto no projeto TIM, que vai permitir abordagens inovadoras em áreas como observação da Terra, exploração científica e telecomunicações. Embora já existam vários pequenos satélites orbitando a Terra, pesquisas de ponta na área atualmente se valem de equipamentos sendo controlados a partir do solo.
Informações
O projeto prevê que os satélites trabalhem em formação, trocando informações de órbita e de atitude (orientação de um corpo em relação a um referencial inercial) entre si. Por enquanto, espera-se que a Bavária, líder do projeto, contribua com três satélites.
A província do Quebec deve participar do programa com um satélite, e Western Cape, com uma câmera. Já a província chinesa de Shandong está comprometida com o local de lançamento e um ou mais satélites. São Paulo deve participar com um ou mais satélites e realizar no LIT-Inpe a montagem, integração e testes dos satélites da formação.
“É algo completamente novo. Estamos agora tentando coordenar a comunicação entre os satélites para ter uma cooperação real em órbita. Quanto mais satélites temos em órbita, melhor. Fala-se muito em internet das coisas e espera-se que 25 bilhões de objetos estejam conectados até 2020. Porém, para prover isso é preciso que mini e nanossatélites tornem possível a internet do espaço”, disse Klaus Schilling.
Estrutura
Além de facilitar o desenvolvimento de pesquisas em colaboração internacional e criar uma estrutura para o desenvolvimento inovativo entre pesquisadores das sete regiões, o RLS busca auxiliar os cientistas participantes a identificar oportunidades de financiamento.
“São regiões muito heterogêneas que têm complementaridades e objetivos interessantes. Há alguns anos fizemos um planejamento para a área de energia, mostrando no que cada região é mais forte em termos de energia, em que lugar há mais desenvolvimento e em qual tecnologia”, salientou Gilberto Jannuzzi, presidente da RLS.
De acordo com o gestor, na parte de energia foram debatidos questões e projetos sobre cidades inteligentes. Ainda no campo da energia, há uma colaboração entre pesquisadores alemães e brasileiros para estudar o impacto das fontes renováveis de energia no meio ambiente e a interferência da natureza no processo, bem como um estudo multilateral sobre armazenamento de energia.
No campo aeroespacial, as regiões estão se organizando para fazer um campus virtual de aeronáutica. Outro interesse do consórcio é o desenvolvimento econômico gerado a partir da pesquisa.
“É um fórum com diversas regiões que têm interesses comuns e complementaridades em termos de pesquisa. Quanto mais houver colaborações que aumentem a inovação, melhor. Colocando diferentes equipes de pesquisadores trabalhando juntas é possível acelerar a inovação”, enfatizou Patrick Hyndman, diretor da área de parcerias do Ministério da Economia e Inovação de Quebec, em entrevista à Agência Fapesp.
Quebec sediou a reunião do ano passado, que, além do corpo técnico, contou com a participação dos chefes de Estado das regiões.

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