Mercado de livros passa por mudanças no Brasil Especialistas apostam em um retorno das pequenas livrarias de bairro, que conhecem o cliente pelo nome. As grandes lojas estão em crise, os clubes de assinatura faturam alto. Os livros digitais ganham cada vez mais espaço, mas ainda não desbancaram o bom e velho exemplar de papel.

Livro impresso vende mais que o digital. Foto: Pixabay
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POR CAMILA OLIVO

Já faz mais de um ano que o Brasil tem um aumento constante no volume de vendas de livros. Até agora, no acumulado do ano, o incremento é de 9,5%, de acordo com a Nielsen.

Para os editores, o movimento é oposto. Menos livros estão sendo produzidos.
As maiores redes de livrarias do país têm problemas financeiros. Corre na justiça de São Paulo um pedido de falência da Saraiva, por causa da dívida com um fornecedor. A empresa diz que o processo é descabido, e que a receita bruta do ano passado foi de R$1,9 bilhão.

O presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, Marcos da Veiga Pereira, confirma a crise e atrasos de pagamentos.

"Fundalmentamente as duas principais redes têm tido problemas, problemas de atraso, de renegociações de títulos," revela Pereira.

A Sextante, editora que ele dirige, precisou cortar 40% de sua programação este ano.

O jornalista Leonardo Neto é editor de um site especializado no assunto. Ele acha que as grandes lojas, que vendem todo o tipo de produto, vão perder espaço.

"O conceito de megastore, me parece que não tem mais espaço pra ele. As lojas estão ficando menores e elas vão ter que se preocupar com algum tipo de curadoria. E, sobretudo, fazer uma curadoria de eventos," sugere Neto.

Em Porto Alegre, faz dois anos que Ederson Lopes apostou nesse modelo chamado de "livraria de calçada". Ele já tinha um comércio online mas sentiu falta do contato com o público e abriu a Taverna, uma pequena loja que vive de vender só livros.

"A loja física proporciona a relação além dessa venda, a opinião do leitor sobre o livro, a realização de eventos como saraus, como lançamento de livros," conta Lopes.

Ter acesso a uma seleção de títulos também chamou a atenção do auxiliar de escritório Rubens Tietzmann. Mas ele escolheu uma forma diferente de comprar: fez uma assinatura. Paga cerca de R$60 mensais para receber em casa, um livro por mês.

Rubens disse que tem gente que acha caro. "Eu não acho caro porque não é só um livro que você está comprando, é uma experiência literária. Porque quando a caixa chega na tua casa, você tem uma sensação de quando uma criança está recebendo o presente do Papai Noel, que vem num saco, sem saber o que é."

Esse tipo de negócio tem crescido. O clube de assinaturas Tag foi criado há quatro anos e já fatura mais de R$2 milhões por mês com os cerca de 40 mil associados ativos.

O bom e velho livro de papel ainda representa a maioria das vendas nas grandes editoras. A pesquisa Fipe de 2016 apontou que mais de 90% do faturamento delas veio dos exemplares tradicionais. Mas o cenário tende a mudar. Em dezembro de 2012, quando a loja virtual Amazon chegou no Brasil, o acervo era de 13 mil livros digitais em português. Hoje, são 150 mil. Quinze milhões de livros digitais já foram baixados.

O gerente geral de aquisição de conteúdo para Kindle da Amazon, Ricardo Garrido, diz que a empresa não concorre com livrarias, mas disputa o tempo do leitor com outras atividades.

"Não existe uma guerra entre livrarias, entre sites, entre livro digital e livro impresso. A gente disputa o tempo das pessoas. E as pessoas estão dividindo o tempo delas com jogos, com redes sociais, com grupos de mensagens no Whatsapp. Então é importante que a gente leve para as pessoas a oferta de livros da maneira que elas querem acessar e no modelo que faça sentido para elas," explica Garrido.

Ismael Borges, monitora o varejo de livros em um empresa de pesquisas de mercado. Ele confirma o crescimento do digital, mas duvida do fim dos livros de papel.

"É um tipo de livro que cresce exponencialmente, mas que ainda tem uma participação pequena. Na minha opinião, ele não vem pra substituir, ele vai coexistir com o livro de papel," analisa Borges.

 
De acordo com o levantamento do Global Enterteinment and Midia Outlook, o Brasil é o décimo maior mercado de livros do mundo.

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