A estratégia dos candidatos Como os cinco principais presidenciáveis tentarão se apresentar, seus trunfos e suas fraquezas - Por Helio Gurovitz

Começam a ficar claras, com as entrevistas e debates na TV, as estratégias de campanha dos principais candidatos à Presidência para chegar ao segundo turno, cada uma com seus trunfos e fraquezas: G1.com

PT Mesmo sem ter cravado que o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad será o nome que representará o partido na urna eletrônica, o objetivo do PT é transformar a eleição num plebiscito sobre a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O partido prometerá resgatar os bons tempos na economia e atacará as reformas promovidas por Temer, em especial a trabalhista e as privatizações. A estratégia de apresentar Lula como vítima das elites deriva do discurso maniqueísta clássico que levou o PT a quatro vitórias sucessivas nas urnas: o “nós” contra “eles” que separa o país em ricos e pobres, elite e povo, direita e esquerda. O trunfo dessa estratégia é sua eficácia comprovada. A fraqueza, no cenário atual, é que ela só parece convencer os já convencidos. As eleições municipais de 2016 demonstraram o limite do discurso petista, exposto à contradição diante das investigações da Operação Lava Jato, que resultaram na condenação e prisão de Lula. A maioria dos brasileiros não acredita na teoria da conspiração contra ele.

Jair Bolsonaro Caberá a Bolsonaro encarnar o papel do forasteiro, externo ao sistema político. Apesar de ser deputado há quase 30 anos, é a primeira vez que seu nome estará na urna numa eleição majoritária nacional. Basta para que seja encarado como novidade pela população. Não ter partidos de relevo em sua coalizão e não ser alvo de investigação por corrupção são fatos que contribuem para consolidar a imagem de candidato da “limpeza”, capaz de mudar “tuso isso que está aí”. É o mesmo mecanismo que levou ao poder, noutros tempos, Jânio Quadros e Fernando Collor. O trunfo de Bolsonaro é a mobilização subterrânea, por meio das redes sociais, de uma base eleitoral fiel que o trouxe à posição de favorito nas pesquisas de opinião, num momento de avanço pelo planeta de discursos que proclamam o combate à “ditadura do politicamente correto”. Suas limitações têm várias naturezas: a dificuldade de penetração nos públicos feminino, mais pobre e de menor grau de instrução, a falta de tempo para propaganda no horário eleitoral, o histórico de posições extremas em temas divisivos, a dificuldade de estabelecer alianças regionais sólidas, a falta de experiência administrativa, a ignorância confessada sobre temas essenciais à gestão pública, as propostas apresentadas em geral como slogans para agradar um eleitor que, como o lulista, já parece convencido.

Geraldo Alckmin Candidato pela segunda vez, o tucano tentará se apresentar como a voz moderada em meio aos extremos, o lulismo e o bolsonarismo. O figurino casa perfeitamente com sua imagem de “picolé de chuchu”. Ele tentará passar a imagem de uma segunda opção decente, o “menos pior” e o único capaz de evitar aventuras arriscadas. Para tentar combater o domínio de Bolsonaro sobre o eleitorado antipetista, já começou a adotar bandeiras mais conservadoras no início da campanha, em questões como porte de armas. Tem em mãos todos os trunfos necessários para subir nas pesquisas de intenção de voto: história para contar (governou São Paulo duas vezes, em administrações aprovadas pela população), quase metade do tempo do horário eleitoral gratuito na televisão, um extenso arco de alianças regionais, a simpatia do mercado financeiro e propostas minuciosas para quase todo tipo de questão. Sua principal limitação é óbvia: pela coalizão que montou, tornou-se por gravidade o candidato do sistema. Seu partido é objeto de investigações e condenações por corrupção. Sua própria gestão e sua campanha são alvos na Operação Lava Jato, embora pessoalmente ele ainda tenha sido preservado. Num momento em que a população está farta com a política tradicional, não é exatamente uma situação confortável.

Ciro Gomes Ele cresceu no vácuo gerado pela prisão de Lula no campo esquerdista, fracassou ao tentar uma aliança com partidos de centro para moderar sua imagem e foi rifado pelo próprio Lula quando queria articular uma reaproximação. Sua estratégia esta à deriva. É provável que centre seu discurso no ataque à política econômica do governo Temer. A dificuldade: também será o discurso petista. Seu trunfo é a penetração em estados do Nordeste, onde detém uma rede sólida de alianças. Suas fraquezas são evidentes: as alianças restritas que limitam seu tempo de propaganda na TV, a incontinência verbal notória, a resistência do público feminino e, sobretudo, a dificuldade para se distinguir de Haddad, no momento em que a campanha petista deslanchar.

Marina Silva Ela larga na frente na preferência de eleitores que guardam a memória de campanhas passadas. Tentará ser a candidata, ao mesmo tempo, da ética e da moderação. Procurará transmitir a imagem de alguém acima das disputas, externa ao eixo político partidário, sem a virulência que caracteriza o atual clima de polarização. Embora tenha permanecido no PT no período do mensalão, não está manchada por escândalos de corrupção, rompeu com o partido há anos e detém a simpatia de parcela da esquerda antipetista. Tem laços fortes com o empresariado e o terceiro setor, faz sucesso em determinadas redes sociais, além de ser um nome reconhecido nas faixas de renda e escolaridade mais baixas, graças a uma história de vida inspiradora. Sua principal fraqueza é o isolamento silencioso, estratégia que adotou nos últimos anos para se preservar até a campanha. O resultado é um arco de alianças pobre, pouco tempo no horário eleitoral e a dificuldade para evitar a sangria nos eleitores que arrebanhou, menos fieis que petistas ou bolsonaristas. A consolidação de Alckmin como candidato de centro tornará sua vitória improvável.
 
(Foto: Arte/G1)     

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