Mogi das Cruzes - Santa Casa deve suspender serviço



FERNANDO PIOVEZAM

Com previsão de fechar o ano com déficit de R$ 18 milhões, sem crédito junto a alguns de seus principais fornecedores e há dois meses e meio sem pagar os médicos, a direção da Santa Casa de Mogi das Cruzes anunciou ontem que estuda a suspensão de alguns serviços para evitar a insolvência e até uma readequação em seu perfil assistencial. 

Ainda não está definido quando e nem quais procedimentos podem ser suprimidos na grade de especialidades médicas. A crise financeira soma-se ao grave quadro de superlotação na UTI Neonatal, que o hospital tenta, mas não consegue debelar há semanas (veja box).

Sem qualquer recurso para o pagamento aos prestadores de serviços, a Santa Casa contratou um profissional para gerenciar os problemas financeiros. Para se ter uma ideia do tamanho do problema, bastar citar o índice de endividamento: a cada R$ 1 real gasto, a Santa Casa fica devendo R$ 0,66. 

As informações marcaram a audiência pública para a apresentação dos resultados das ações da Secretaria Municipal de Saúde no primeiro trimestre do ano, ontem, na Câmara Municipal.
Resultado de falhas administrativas do passado, a operação no vermelho acentua-se por problemas como as dívidas trabalhistas. 

Apenas em uma das ações perdidas pela Santa Casa [que irá recorrer da decisão], o valor chega a R$ 2 milhões. Em abril, os gastos totais foram R$ 5 milhões, dos quais foram pagos R$ 3 milhões. Ou seja, R$ 2 milhões ajudam a acumular a dívida ativa.

Há dificuldades em equipamentos médicos e na estrutura predial do hospital e, no próximo mês, quando deverá ser aplicado o dissídio coletivo nos salários dos funcionários, o impacto na folha de pagamento deverá ser de 7%.

A falta de pagamento aos médicos foi questionada pelo vereador Francisco Bezerra, que há 38 anos acompanha as mesmas dificuldades apontadas pela atual direção. "Sou médico há 38 anos na Santa Casa e, durante todo esse período, a situação é a mesma", acrescentando que a questão é muito mais grave do que a exposta. 

Ele e outros vereadores, como Mauro Araújo, temem a paralisação dos serviços, e cobram reajuste nos repasses do Sistema Único de Saúde (SUS) para os procedimentos médicos e de internação.

Ao ser questionado sobre a ajuda à Santa Casa, o secretário Paulo Villas Bôas de Carvalho, disse: "Nós não somos os gerentes, somos os gestores. Estamos cuidando para que o hospital profissionalize a sua gestão". 

Um novo diretor financeiro, Mohamed Medhat Pechliye, que atuou em várias instituições financeiras, foi contratado para reequilibrar as finanças do local.

Entre as ações para impedir o que o vereador Mauro Araújo chamou de "pré-falência", a direção do hospital anunciou a revisão de contratos com fornecedores, a reavaliação dos estoques e compras. 

"Acreditamos que a Secretaria de Saúde precisa entrar de corpo e alma na busca de uma solução para a Santa Casa. Se parar a Santa Casa, a bucha vai estourar aqui na Prefeitura", salientou.

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